Tarifa de ônibus em Natal é a 11ª mais cara do Brasil

Otransporte público em Natal enfrenta uma série de desafios que afetam os usuários, reconhecidos há anos, como o reduzido quantitativo de linhas e a falta de modernização. Ainda sem licitação publicada, os usuários que precisam se deslocar de ônibus pela cidade pagam R$4,90, valor reajustado em 8,88% desde o dia 29 de dezembro de 2024. O valor representa a terceira maior tarifa do Nordeste e a 11ª do Brasil, superando até mesmo o Rio de Janeiro. Para Rubens Ramos, engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes, os impactos desse aumento são significativos para os usuários, mas não são exorbitantes em comparação a outras capitais.

De acordo com a tabela publicada pela Prefeitura do Natal, com sanção em 26 de dezembro de 2024 no Diário Oficial do Município, a população paga o equivalente a 83,66% da tarifa técnica, definida em R$5,14. O valor excedente de R$0,24 é subsidiado pelo executivo, conforme acordo judicial. Segundo Rubens, cidades como Recife, Maceió e São Luís possuem tarifas menores, mas com subsídios maiores, principalmente ocasionados pelas gratuidades.

“Se o idoso fosse pago pela Prefeitura, assim como a meia passagem dos estudantes e os custos com deficientes, a tarifa poderia cair. Sem subsídio, quem arca com isso é o passageiro, o que impacta diretamente no aumento das tarifas”, explica. Considerando a soma dos usuários que não pagam pelas passagens nos transportes ou que possuem desconto, Rubens estima que a demanda alcança quase 25% do total.

Um dos natalenses que usufrui do direito à gratuidade é Durval Araújo, 68, que se desloca duas vezes por dia de ônibus para trabalhar no bairro da Cidade Alta. Para ele, Natal ainda precisa de grandes melhorias para fazer valer a pena o valor cobrado para a população. “Geralmente eu pego a linha 27 e já houve vezes que eu esperei 1h10 na parada e acabei voltando para casa, desisti”, reclama.

A situação piora ainda mais aos domingos. Além do grande tempo de espera, Durval também aponta problemas estruturais, como a renovação da frota e a necessidade de ar-condicionado. Esse último item está previsto como obrigatório para a licitação do transporte público da capital, segundo informações confirmadas pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU), em julho de 2024, durante entrevista à TRIBUNA DO NORTE.

Na avaliação de Rubens Ramos, o ar-condicionado deixou de ser um luxo e se tornou uma necessidade, porém, na situação atual, a implantação em Natal poderia gerar um acréscimo de R$0,25 na tarifa. “Para não encarecer mais, isso poderia ser colocado como subsídio”, defende. Cidades como o Rio de Janeiro possuem 90% da frota equipada com o item, segundo o RioÔnibus, sindicato que reúne as 29 empresas do setor. A tarifa na capital foi reajustada de R$4,30 para R$4,70 a partir deste domingo (5).

“O subsídio foi o caminho encontrado no mundo. O Brasil passou por um período de ilusão que a conta poderia ser paga apenas pelo usuário, mas o custo aumenta, a tarifa aumenta, cai a demanda, e isso é um ciclo vicioso. A única saída [para compensar] é o subsídio, seja ele parcial ou total, como ocorre há décadas em países desenvolvidos”, explica Rubens Ramos.

A fuga do uso do ônibus e a busca por aplicativos ou aquisição de veículos próprios é uma experiência vivenciada por Adriana da Silva, 44. Moradora do bairro de Nova Natal, na zona Norte, ela aponta que é preciso buscar estratégias para evitar a superlotação. “No horário em que preciso chegar no trabalho, eu preciso sair de casa umas duas horas antes para não me atrasar. Às vezes, meu marido vai me deixar em outro terminal, para evitar as paradas mais cheias”, relata.

Na hora de sair com mais pessoas para um mesmo destino, Adriana explica que costuma recorrer ao transporte por aplicativo, diante da possibilidade da divisão dos valores e maior praticidade. “Quando nós fazemos o comparativo, não tem como pensar duas vezes. Se a diferença for pouca, vou de aplicativo”, defende.

A falta de integração entre os diferentes modais de transporte é outra questão crítica apontada por Adriana e confirmada por Rubens Ramos. Em Natal, os sistemas de trem, ônibus municipal e intermunicipal são geridos por diferentes governanças, o que aumenta os custos e o tempo de deslocamento para os usuários. “É absurdo que os modais não conversem entre si. Uma integração bem planejada poderia reduzir significativamente o tempo de viagem e tornar o transporte mais atrativo”, avalia Ramos.

Ônibus elétricos podem baratear passagem

Na União Europeia, 43% dos ônibus adquiridos pelas cidades em 2023 são elétricos ou movidos a hidrogênio verde, enquanto a frota de Londres é 60% sustentável. Segundo a plataforma E-bus Radar, que monitora o transporte público da América Latina, o Brasil possui apenas 556 ônibus elétricos em um universo de 100 mil ônibus, ou seja, menos de 1%.

Para Rubens Ramos, a aquisição de ônibus elétricos pode ser uma positiva solução para a redução do tarifário pago pela população. Apesar da aquisição dos veículos ser mais custoso, a manutenção tem custo reduzido e tem resultados a longo prazo. “Se houvesse subsídio para a aquisição poderíamos ter uma frota mais moderna, com benefícios tanto para o meio ambiente quanto para os usuários. Isso teria um impacto positivo na redução da tarifa”, avalia.

Em anúncio no dia 29 de novembro de 2024, a Prefeitura de João Pessoa, que hoje possui uma tarifa de R$4,90, mesmo valor que Natal, confirmou a chegada de ônibus elétricos para o primeiro semestre de 2025. Segundo anunciado pelo prefeito Cícero Lucena, essa ação faz parte da implantação do sistema de transporte rápido na capital da Paraíba junto à Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). A operação de crédito tem estimado em R$ 240 milhões pelo Governo do Estado e mais R$ 160 milhões da Prefeitura.

Também no mês de novembro, São Paulo, que atua com tarifa de R$5,00 a partir desta segunda-feira (6), assinou um contrato de empréstimo no valor de R$ 2,5 bilhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para adquirir mais 1.300 ônibus elétricos não poluentes. Segundo a Prefeitura, a capital já tem a maior frota de ônibus elétricos do Brasil, com 489 veículos, sendo 288 a bateria.

Natal aguarda licitação do transporte

A concessão de subsídio econômico para os custos do sistema de transporte público de Natal é apontada como fundamental para que o Município realize com sucesso a licitação dos transportes que nunca ocorreu na cidade, segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana (STTU). As duas últimas tentativas, em 2017, foram desertas.

A última promessa era de que o edital seria lançado na primeira quinzena de agosto passado e que em setembro as empresas interessadas já ofertariam propostas, mas os prazos não foram cumpridos. A minuta do documento, elaborada pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) ao custo de R$ 1,45 milhão, chegou a ser entregue ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN). Procurada para esclarecer sobre o andamento do processo de licitação, a STTU não retornou até o fechamento desta matéria.

Em nota enviada à TRIBUNA DO NORTE, o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (SETURN) explica o transporte público enfrentam desafios que demandam soluções urgentes. Para eles, a licitação, aguardada por anos, é um passo fundamental para garantir melhorias nos itinerários, conforto para os clientes e segurança jurídica às empresas operadoras.

“A expectativa é que a pauta ganhe prioridade no início da nova administração, com amplo diálogo entre prefeitura, operadores e a sociedade civil. Estamos à disposição para contribuir com propostas técnicas que possam beneficiar todos os envolvidos e sabendo que a implementação de uma licitação transparente e eficiente poderá significar um marco na história do transporte público de Natal”, afirma o Sindicato.

Fonte Tribuna do Norte

×