“Natal tem grande potencial para se destacar no turismo de eventos”, diz presidente da Abrape, Doreni Júnior
O setor de eventos e o turismo mostram um alinhamento importante entre si. Prova disso é o crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor de eventos de cultura e entretenimento e o aumento de 4,6% nas atividades turísticas. O Radar da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) mostrou que o Rio Grande do Norte teve um crescimento de 23,9% no primeiro semestre deste ano comparado a 2023 no que se refere ao consumo no setor de recreação, que abrange as atividades de eventos de cultura e entretenimento, nos estados. O presidente da Abrape, Doreni Caramori Júnior acredita que “Natal tem grande potencial para se destacar no turismo de eventos” e que os “eventos tornam-se catalisadores para o crescimento do turismo, beneficiando toda a economia local”. Em entrevista à Tribuna do Norte, ele também abordou as expectativas do setor, a importância da melhoria da infraestrutura da capital, além de tratar da relevância do Perse, da iniciativa chamada Abrape Experience e da inserção de práticas ESG no setor de eventos. Confira a entrevista:
O Radar Abrape, estudo que revela os impactos do segmento na economia, mostrou que o RN teve um crescimento de 23,9% no primeiro semestre deste ano comparado a 2023 no que se refere ao consumo no setor de recreação, que abrange as atividades de eventos de cultura e entretenimento, nos estados. Quanto isso significa em volume de dinheiro? A que o senhor acredita que isso se deve?
Os dados da Abrape mostraram que o consumo no setor de recreação no Rio Grande do Norte cresceu 23,9% no primeiro semestre de 2024, alcançando R$ 724 milhões, em comparação com aproximadamente R$ 584,7 milhões no mesmo período de 2023. Esse aumento significativo é reflexo de vários fatores. A retomada de eventos presenciais após a pandemia e o crescimento do turismo cultural e de entretenimento são elementos que certamente impulsionaram o setor. Além disso, a valorização das manifestações culturais locais e a diversificação na oferta de eventos têm atraído mais público, contribuindo para o aumento do consumo. A melhoria da infraestrutura de eventos e os investimentos no setor também são fatores que ajudam a explicar esse crescimento. Em resumo, a recuperação econômica, a demanda por experiências ao vivo e o fortalecimento do mercado local são fundamentais para esse crescimento.
Diante de um dado como esse, como atrair mais eventos?
Para atrair mais eventos, é necessário adotar uma estratégia multidimensional. Primeiramente, a cidade deve continuar investindo em infraestrutura de qualidade, como centros de convenções, arenas e espaços ao ar livre adequados, bem como oferecer serviços de apoio como segurança, transporte e hospedagem. A qualidade da infraestrutura é fundamental para garantir a viabilidade de eventos de grande porte. Outro aspecto importante é o incentivo e apoio ao setor privado. Criar parcerias entre o poder público e as empresas privadas pode ser uma boa estratégia para organizar grandes eventos e tornar a cidade mais competitiva no cenário nacional e internacional. Além disso, a promoção de Natal como um destino estratégico para eventos culturais e de entretenimento é essencial. Campanhas de marketing direcionadas para mercados específicos, com destaque para a diversidade e a identidade cultural local, podem atrair organizadores de eventos. A participação em feiras e eventos de turismo e negócios também pode ajudar a promover a cidade e suas vantagens.
Dados do Radar Econômico mostram ainda que o PIB do setor de eventos de cultura e entretenimento registrou crescimento de 2,7% no acumulado dos últimos 12 meses em comparação ao mesmo período do ano anterior. Qual sua avaliação do impacto e importância do setor na economia?
O crescimento de 2,7% do PIB do setor de eventos de cultura e entretenimento é um reflexo do potencial transformador que esses eventos têm na economia. Eles não apenas geram receita, mas também estimulam uma cadeia produtiva que envolve desde a hotelaria até o comércio local. O hub envolve 52 atividades econômicas como operadores turísticos, bares e restaurantes, serviços gerais, segurança privada, hospedagem etc, atividades que são diretamente impactadas pelas atividades de cultura e entretenimento. O setor é, também, uma importante fonte de inovação e cultura, atraindo investimentos e promovendo a diversidade, o que é fundamental para o desenvolvimento econômico sustentável.
Outro dado que chama atenção, dentro desse mesmo Radar, é que o volume de atividades turísticas apresentou um aumento de 4,6%. Como analisa essa interação entre eventos e o turismo?
O aumento de 4,6% nas atividades turísticas demonstra a sinergia entre eventos e turismo. Eventos bem estruturados atraem visitantes, não só para participar, mas também para explorar o destino. Essa relação impulsiona o consumo em restaurantes, hotéis e lojas, criando uma experiência enriquecedora tanto para os turistas quanto para os moradores. Assim, eventos tornam-se catalisadores para o crescimento do turismo, beneficiando toda a economia local.
O senhor considera que Natal tem potencial para se destacar no turismo de eventos?
Sim, acredito que Natal tem grande potencial para se destacar no turismo de eventos. A cidade já é reconhecida pela sua beleza natural e pela hospitalidade do seu povo, e isso é uma base sólida para o turismo de eventos. Além disso, Natal tem um clima agradável durante boa parte do ano, o que favorece a realização de eventos, principalmente os ao ar livre. Outro ponto positivo é a diversidade de atrações que a cidade oferece, desde eventos de música, dança e gastronomia até festivais culturais e de esportes. Isso proporciona um leque amplo de possibilidades para quem organiza eventos de diferentes portes e nichos. Porém, para que esse potencial se realize completamente, é necessário um trabalho conjunto entre o setor público e privado para otimizar a infraestrutura e aumentar a competitividade da cidade frente a outras capitais do Nordeste e até mesmo a destinos internacionais.
Que desafios a cidade tem de superar?
Embora Natal tenha muitos pontos positivos, há desafios a serem superados. O principal deles é a infraestrutura. Embora a cidade já tenha alguns centros de eventos, é preciso ampliar e modernizar esses espaços para atender a uma maior demanda. Além disso, a questão do transporte e mobilidade urbana também é importante para garantir que os visitantes e participantes de eventos se desloquem com facilidade. Outro desafio é a qualificação da mão de obra local para a realização de eventos de grande porte. Capacitar profissionais na área de turismo, organização de eventos, segurança, entre outras, é essencial para que os eventos sejam realizados com qualidade e segurança. Além disso, fortalecer a promoção de Natal como destino turístico e trabalhar para atrair investidores e patrocinadores para os eventos é outro ponto crucial. A cidade precisa se posicionar de maneira estratégica no mercado e divulgar suas vantagens competitivas.
Durante a pandemia, o setor passou um grave momento. De que forma o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) colaborou para a retomada após o longo período de paralisação?
O Perse foi crucial para a recuperação do setor após os desafios da pandemia. Ele proporcionou apoio financeiro e mecanismos que ajudaram empresas a se reerguerem, recontratarem funcionários e retomar suas atividades. Essa iniciativa não só preservou empregos, mas também garantiu que a cultura e o entretenimento permanecessem vivos na sociedade, elementos essenciais para a nossa identidade nacional.
Como o setor tem influenciado na geração de emprego e no incremento nos impostos?
O setor de eventos é um grande gerador de empregos diretos e indiretos. Cada evento realizado movimenta uma infinidade de setores, desde produção até serviços, contribuindo significativamente para a arrecadação de impostos. A geração de empregos e a circulação de recursos são fundamentais para o fortalecimento da economia, e estamos comprometidos em continuar expandindo essas oportunidades.
Vocês têm uma iniciativa chamada Abrape Experience, que é um verdadeiro laboratório vivo de trocas e aprendizados do mundo da gestão e do entretenimento. No que consiste esse trabalho?
O Abrape Experience é uma iniciativa inovadora que serve como um laboratório de experiências e aprendizado. Através de workshops, palestras e intercâmbios, buscamos aprimorar os profissionais do setor para o mercado de eventos. A última edição do Abrape Experience aconteceu em setembro durante o Rock in Rio e incluiu acesso ao Rock in Rio Academy, uma formação executiva em gestão, comunicação e eventos com base no modelo de negócio de uma das maiores marcas de música e entretenimento do mundo. A iniciativa já passou, também, por outros grandes eventos como o Camarote Galo da Madrugada e Carvalheira na Ladeira, no Carnaval de Pernambuco, no The Town, em São Paulo, no Pump Black Party, o maior Halloween do Brasil, realizado em Manaus, e na Festa de Peão de Barretos 2024.
E como pode colaborar para a qualificação de quem busca se inserir no mercado de eventos? Já tem um calendário para 2025?
Em relação ao calendário para 2025, estamos finalizando as datas e temas que serão abordados.
Qual sua opinião a respeito da inserção de práticas ESG no setor de eventos?
A inserção de práticas ESG é fundamental para o setor de eventos. Promovem responsabilidade social e ambiental, aspectos que estão cada vez mais na pauta dos consumidores e empresas. Ao adotar uma postura proativa em relação a ESG, podemos não só melhorar nossa imagem, mas também criar um legado positivo para as futuras gerações.
Qual sua avaliação do setor até o momento? E a expectativa para o próximo ano?
Até o momento, o setor tem mostrado sinais de recuperação dos efeitos da longa paralisação da pandemia e crescimento, o que é encorajador. As expectativas para o próximo ano são otimistas, especialmente com o aumento da demanda por eventos e a contínua valorização da cultura. Acreditamos que, com planejamento estratégico e colaboração entre os diversos players do setor, podemos não apenas recuperar os níveis anteriores à pandemia, mas superá-los.
Fonte Tribuna do Norte