IBGE: quase metade dos domicílios do RN é chefiada por mulheres
O número de domicílios chefiados por mulheres no Rio Grande do Norte cresceu 12,4 pontos percentuais (p.p.) entre 2010 e 2022 – passando de 36,9% para 49,3% no período, de acordo com as informações do Censo Demográfico divulgado na semana passada pelo IBGE sobre a composição domiciliar do País. Foi o quarto maior crescimento do Nordeste, dentro do recorte analisado, atrás de Alagoas (com crescimento de 13,2 p.p.), Ceará (alta de 13 p.p.) e Paraíba (aumento de 12,9 p.p). Apesar do avanço, o RN é o único Estado da região cujo percentual de mulheres responsáveis pela unidade doméstica é inferior a 50%.
Pernambuco (53,9%) lidera o índice de unidades cuja pessoa responsável é do sexo feminino em todo o País. “Os dados mostram que a maior parte dos estados está concentrada no Nordeste. Por outro lado, os menores percentuais são encontrados em Rondônia, com 44,3%, e em Santa Catarina, com 44,6%. Percebe-se, de forma geral, que as unidades da federação acompanharam o movimento do Brasil com aumento da proporção de lares com responsáveis do sexo feminino”, aponta a analista da divulgação do IBGE, Luciene Longo. No País, das 72,5 milhões de unidades domésticas, 49,1% tinham as mulheres como responsáveis em 2022.
A proporção representa uma mudança importante em relação ao Censo de 2010, quando o percentual de homens responsáveis (61,3%) era substancialmente maior do que o de mulheres (38,7%). A autônoma Ednalva Cabral, de 56 anos, assumiu a chefia domiciliar após a morte do marido, em 2021. “Me casei aos 16, mas me tornei chefe de família somente aos 53 anos. Acho que meu maior desafio, é me encontrar, aprender a viver minha própria vida”, conta Cabral, que é mãe de seis filhos, mas apenas dois moram com ela atualmente, no bairro de Lagoa Azul, na zona Norte de Natal.
A jornalista Ilana Albuquerque deixou a casa dos pais em 2010 para assumir o próprio lar. Ela mora com a filha, de 21 anos, na capital e diz que decidiu, por conta própria, trazer para si a responsabilidade de chefiar uma casa. “Minha mãe sempre me criou para ser muito independente”, afirma. A jornalista admite que enfrenta desafios, mas também conta com inúmeras vantagens por ter assumido as rédeas de casa. “Sempre existe o receio de chegar ao final do mês e não conseguir pagar as contas. Às vezes é preciso economizar para cobrir os custos fixos”, diz.
“Contudo, me considero privilegiada. Tenho minha graduação e, graças a Deus nunca me faltaram oportunidades de trabalho e fui aprovada em concurso público em 2011. Outra grande vantagem é a minha independência. Acho que o número de mulheres chefes de família hoje se dá pelo abandono do lar pelos homens e também pela conscientização, da nossa parte, de que estaremos melhor nos sustentando sozinhas, livres de relacionamentos tóxicos e tolhedores. Eu realmente prezo muito pela minha paz e minha saúde mental”, narra a jornalista.
A professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Fernanda Abreu, explicou que o avanço do número de mulheres chefes de domicílio tem a ver com alguns fatores, dentre eles, as novas configurações familiares dos últimos anos. “Esta não é, necessariamente, uma tendência atual. A gente tem visto o aumento de lares monoparentais e homoafetivos também. Existem mudanças culturais em curso com uma propensão maior ao protagonismo das mulheres”, pontua a professora, que pesquisa sobre feminismo e gênero.
“Aquele estereótipo socialmente entendido como ideal, cujo modelo hegemônico de família envolve pai, mãe e filhos, está convivendo cada vez mais com novos arranjos”, completa. Fernanda Abreu chama atenção, no entanto, para os desafios que o novo padrão pode impor à mulheres.
“Assumir a responsabilidade pela chefia do lar pode implicar no que a gente chama de jornadas intensivas e extensivas, que se propagam ao longo das 24 horas do dia. É preciso investigar os fatores determinantes desse fenômeno para conhecer as consequências dele. E é necessário que, por força desse avanço, as tarefas, do lar ou não, sejam distribuídas entre todos os gêneros, de forma a existir um equilíbrio social. Sem isso, a gente vai ter um agravamento da jornada do trabalho produtivo e reprodutivo, que pode sair muito caro para a sociedade”, aponta Fernanda Abreu.
Fonte IBGE