Pioneira no ar: aviadores celebram primeira mulher do RN a voar
O aeródromo Severino Lopes, em São José de Mipibu, na Grande Natal, celebrou neste sábado (26) os 100 anos da aviação potiguar. No evento, ex-comandantes, pilotos, amantes da aviação e figuras históricas são lembradas pela realização do sonho de voar. Entre elas, Lucy Garcia Maia, a primeira mulher norte-rio-grandense a alcançar os céus.
Durante a década de 40, a aviação esportiva ganhava popularidade entre os natalenses graças à construção do segundo Aeroclube do Brasil, fundado em 1928 pelo governador Juvenal Lamartine. Um lugar frequentado por homens viu no horizonte surgir o futuro. Cruzando os céus do rio Potengi, Lucy Garcia Maia se tornava a primeira mulher do RN a voar, em julho de 1942.
Cerca de 82 anos depois, Vera Lúcia Vilar Garcia de Arruda Câmara, sobrinha de Lucy Garcia Maia, primeira mulher potiguar a tirar o brevê de aviação, conta que a tia se sentia livre no ar, voando sobre as praias e realizando manobras audaciosas, sempre apoiada pelo avô, mesmo em meio às preocupações familiares. “Mulher à frente do tempo dela, quando as mulheres não remavam, não jogavam tênis, não jogavam bola e basquete, muito menos pensavam em voar. Tia já estava além do tempo dela e vovô deu todo apoio. Ela se sentia solta, achava que o mundo era dela. Voava por cima da praia da Redinha, que os avós tinham uma casa lá, e ela tirava a rasantes no telhado. E nós, junto com os colegas aviadores, vimos acontecer desastres com dois grandes amigos dela, da época, e assim ela continuou. Quando casou, que ficou grávida do primeiro filho disse: ‘Agora vou tomar juízo e vou deixar de voar.’”, relembra Vera Lúcia.
Sobre o legado da tia, Vera Lúcia ressalta a coragem e determinação de Lucy Garcia e os feitos conquistados de viver sem medo. “As gerações futuras têm que saber que existia uma mulher corajosa. Na época da guerra, ela voava. Ela não parou de voar. Entre 1943 e 1945, ela foi muito. Ela era totalmente estudada, não devia nada e queria ser livre. A importância de lembrar da memória dela, de trazer ela como essa figura importante na aviação e também para a força de mulheres. Cada um tem que alcançar o seu objetivo, mesmo que tenha sido só por uma época de vez, mas ninguém deixa tentar fazer aquilo que tem vontade”, descreve a sobrinha da aviadora.
Comemoração do dia do Aviador
Marcos Fernandes Lopes, engenheiro agrônomo e apaixonado por aviação, conta que o evento marca a memória de personagens como Severino Lopes, Juvenal Lamartine, Augusto Severo, Lucy Garcia, entre outros. “A reunião desse evento é para aproveitar a semana do Aviador, que é o dia 23 de outubro, que foi criado depois que Santos Dumont levantou voo na França em 1906, o dia do Aviador. Como não estamos no dia, estamos fazendo a semana do Aviador”, explica Marcos.
Lopes ainda conta que o projeto teve início em 2002, quando Waldonys, conhecido compositor e sanfoneiro, foi convidado para participar de sua inauguração do Museu do Vaqueiro. Na ocasião, ele sugeriu contactar o comandante Rochinha, piloto do Rio de Janeiro, devido à sua própria falta de aeronave na época, tendo apenas um giroscópio e o desejo de aprimorar suas habilidades. A partir desse encontro, surgiu a ideia de construir uma pista de aviação no local, voltada para atividades esportivas. Em 2003, após estudos de viabilidade, a pista foi registrada e homologada pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) como uma homenagem ao pai do idealizador do projeto, que havia falecido em novembro de 2002 e tinha uma forte ligação com a aviação, tendo sido presidente do Aeroclube.
“A partir disso a homenagem ao meu pai que foi presidente também do Aeroclube. O primeiro voo na vida, eu fiz com ele no campo de Capim Macio ali em Natal. Então, eu quis homenagear ele por ter esse nome Severino Lopes, doutor Severino Lopes”.
O músico e piloto de avião, Waldonys, expressou o orgulho e a honra de fazer parte da história do aeródromo Severino Lopes, no RN, enfatizando o papel fundamental da aviação para o desenvolvimento global. Ele recordou sua primeira visita ao local, motivada pela curiosidade de conhecer o aviador Rochinha, famoso por suas acrobacias aéreas. Em uma área que antes era apenas grama e mato, ele e o amigo Marcos Lopes vislumbraram o potencial de criar uma pista de pouso, que começou de forma simples e foi gradualmente se transformando no complexo que é hoje.
“Eu digo sem medo de errar que uma das maiores conquistas da raça humana, da capacidade de voar, fez com que o mundo nos ache. Então, aqui, numa data super representativa para os aviadores, nós aviadores, e recebendo essa homenagem aqui do aeródromo Severino Lopes, eu fico muito honrado, porque um equipamento como esse traz muitos benefícios para a região inteira”, ressaltou o músico.
Sobre o evento, Waldonys destacou o equilíbrio entre o antigo e o novo presente no aeródromo, na construção do legado e na preservação da memória da aviação potiguar. “Eu fico muito honrado, feliz. E poder, de certa forma ter ajudado em fazer parte dessa história. Aqui você consegue enxergar facilmente que não existe antagonismo entre o velho e o novo. O velho e o novo se encontram aqui muito facilmente”, descreveu o piloto.
O evento também reuniu turistas entusiastas pela aviação. Desde criança, o engenheiro civil Jackson Farias Braga sentia uma ligação especial com aviões, algo que, segundo ele, parecia estar em seu sangue. Natural de Recife, viajou até Natal para compartilhar sua paixão pela aviação durante o evento em homenagem a figuras pioneiras. “Eu sou piloto por hobby. Tirei meu brevê em 1988. Passei um tempo sem voar porque tinha obrigações mais prementes. E deixei de lado a aviação. Agora que eu estou com mais tempo e mais folgado, aí eu voltei, voltei com gosto. A minha vinda à Natal foi para participar deste evento em homenagem a algumas figuras pioneiras da região”, descreveu Braga.
Fonte Tribuna do Norte